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Solenidade de Todos os Santos - Frei Ludovico Garmus

31.10.2024
Artigos Liturgia

Solenidade de Todos os Santos - Frei Ludovico Garmus

Oração: “Deus eterno e todo-poderoso, que nos dais celebrar numa só festa os méritos de todos os Santos, concedei-nos por intercessores tão numerosos a plenitude da vossa misericórdia”.

Primeira leitura: Ap 7,2-4.9-14
Vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas.

Quando o autor do Apocalipse escreve, os cristãos sofriam grandes perseguições por parte do Império Romano. O embate não se dá entre romanos e cristãos, mas entre o Império e seu imperador, simbolizados no dragão voraz, e o Cordeiro Imolado, Jesus Cristo. O vidente recebe a ordem de Cristo para escrever em seu livro “as coisas presentes e as que acontecerão depois”. No presente, um anjo, com “a marca do Deus vivo”, pede que os anjos exterminadores esperem até que ele tenha assinalado os que serão salvos, antes da batalha final do Cordeiro imolado contra o dragão voraz. O visionário, por sua vez, “vê” o triunfo final dos que estão vestidos de branco, porque “lavaram e alvejaram suas roupas no sangue do Cordeiro”. São 144 mil, 12 mil de cada tribo de Israel; são os mártires que deram testemunho da fé cristã pelo sacrifício da própria vida. Para o futuro, vê uma imensa multidão, representantes de nações, tribos, povos e línguas que participarão da vitória do Cordeiro ressuscitado.

Salmo responsorial: Sl 23

É assim a geração dos que procuram o Senhor.

Segunda leitura: 1Jo 3,1-3 Veremos Deus tal como é.

O autor desta Carta se encanta com o “presente de amor que o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus” e o somos de fato. Viver conscientes dessa fé enche-nos de uma alegre esperança, porque “quando Cristo se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos tal como ele é”. O caminho para chegarmos a esta comunhão com Cristo, o Filho de Deus, foi seguido pelos Santos. É o caminho das bem-aventuranças: “Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus” (Evangelho). Para “ver a Deus” é preciso seguir o caminho de Jesus Cristo: aprender a vê-lo presente nos pobres, famintos, sedentos de justiça, perseguidos, presos injustamente, desabrigados e enfermos que necessitam de nosso amor (cf. Mt 25,31-40).

Aclamação ao Evangelho

Vinde a mim, todos vós que estais cansados e penais a carregar pesado fardo, e descanso eu vos darei, diz o Senhor.

Evangelho: Mt 5,1-12a
Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus.

Hoje, Festa de todos os Santos, o evangelista Mateus explicita nas bem-aventuranças o programa do Caminho a seguir nesta vida, para ganharmos a “grande recompensa nos céus (v. 10 e 12). Antes de tudo é preciso ter presente que “Reino dos Céus” em Mateus equivale a “Reino de Deus” em Marcos e em Lucas. Portanto, “Reino dos Céus” não se identifica com a recompensa final da vida eterna em Deus (cf. Mc 10,17-30). Antes, é o caminho que Jesus preparou para o cristão percorrer, aqui na terra, a fim de ganhar a vida eterna. Mateus escreve para cristãos de origem judaica. Por isso, em respeito à tradição judaica, evita pronunciar a palavra “Deus” e a substitui pela palavra “Céus”.

Entre os bem-aventurados Mateus cita três grupos (Raul Ruijs). O primeiro grupo é dos sofredores: os pobres, os aflitos, os mansos (humildes) e os que têm fome e sede de justiça (v. 3-6). O segundo grupo é dos que socorrem os necessitados do primeiro grupo: são os misericordiosos, os puros de coração e os que promovem a paz (v. 7-9). O terceiro grupo é composto pelos do primeiro e do segundo grupo, que vivem o projeto do Reino de Deus, anunciado e vivido por Jesus. São perseguidos porque são solidários com os pobres, os aflitos, os humildes e injustiçados e os defendem. São caluniados e perseguidos pelo simples fato de serem cristãos.

Não podemos pensar que a formulação de algumas bem-aventuranças no futuro signifique algo que Deus vai realizar, sem a nossa participação, somente na vida eterna. Deus enviou seu Filho ao mundo para nos trazer o Reino de Deus, o Reino que pedimos no Pai-Nosso. Jesus pôs em prática o programa deste Reino que veio anunciar. Quem quer seguir o caminho de Jesus deve assumir também o seu programa. Assim, os aflitos serão consolados quando nós os consolarmos. Os mansos possuirão a terra quando nós lutarmos com eles. Os que têm fome e sede de justiça serão saciados quando nós os ajudarmos. Os miseráveis e pobres alcançarão misericórdia quando nós tivermos compaixão deles. Os Santos que hoje festejamos seguiram o exemplo de Jesus e colocaram em prática as bem-aventuranças. Ele é o modelo para todos nós: “Jesus percorria todas as cidades e aldeias ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda enfermidade e doença. Vendo o povo, Jesus sentiu compaixão dele porque estava cansado e abatido como ovelhas sem pastor” (Mt 9,35-36).

Jesus, o Bom Pastor, que deu a vida pelas suas ovelhas, depois de nos ter alimentado pela Palavra de Deus, vai agora nos alimentar pela Eucaristia. Assim alimentados, vamos também nós cuidar de nossos irmãos sofredores, manifestando-lhes o amor misericordioso de nosso Bom Pastor. Aos que assim o fizerem, Jesus Cristo como justo juiz os acolherá na vida eterna: “Vinde, abençoados por meu Pai… porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, estive nu e me vestistes…” (Mt 25,34-35).

FREI LUDOVICO GARMUS, OFM

Franciscanos

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