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Música Litúrgica: uma disciplina da Teologia?

09.08.2018
Artigos

Música Litúrgica: uma disciplina da Teologia?

Na semana retrasada, entre os dias 24 a 28 de julho, estive em Campo Largo-PR, em Rondinha, onde temos o convento que abriga os estudantes de Filosofia de nossa Província Franciscana. Foi uma semana de intensivo em música, mais especificamente sobre: “Formas Musicais e História da Música”. Iniciamos nosso curso com uma reflexão sobre ‘gosto musical’, ‘o que é música?’ e ‘função social da música’. Aparentemente temas distintos, mas que estão intimamente ligados, quase como uma consequência natural de argumentos em torno da importância da música para as nossas vidas.

Perguntei a eles: como vocês ouvem música? Sozinhos? Juntos? Por grupo de interesse? Responderam que juntos até ouvem música, mas essa não chega a ser uma audição de fato, é mais “música de fundo”. A maior parte da audição musical se dá só através do smartphone e dos aplicativos de streaming, como Deezer, Spotify, etc. Isso é um fenômeno mais ou menos verificável em toda parte. Quase como roupa íntima, essa escuta não é compartilhada. Inexiste quase que por completo o ritual de se ouvir música. Como antigamente seja ainda antes da invenção dos aparelhos modernos de reprodução sonora, ou nos inícios dos discos de vinil, que pelo fato de serem de difícil acesso, faziam com que se houvessem certas reuniões musicais, encontros de escuta.

Guiados por autores como Roland de Candé[1] e Murray Schafer[2], pudemos juntos constatar quenossa escuta é prejudicada pela poluição sonora que nos circunda, pela massificação midiática e pelo abismo existente entre uma superespecialização musical de um lado e uma amusia[3], ou apatia musical de outro.Sobre este último aspecto é que agora proponho uma reflexão a respeito da recente inclusão da música, como matéria optativa, na grade curricular de Teologia, no Instituto Teológico Franciscano.

Não é o caso de esgotar exaustivamente as possibilidades dessa reflexão, mas de lançar questionamentos. Tais perguntas nascem de um interesse sempre maior pela Música Litúrgica, já expresso no insistente apelo do Magistério da Igreja, ao longo de séculos,no sentido de afirmar a dignidade e o lugar dessa música na Liturgia.Na praxe eclesial, canto e música sempre foram motivo para controvérsias e discussões. Contudo já é um avanço em relação à visão mais antiga – onde a música sacra estava somente ao lado e não naLiturgia.

De várias faculdades de teologia nacionais e mesmo estrangeiras, praticamente o ITF é um dos únicos Institutos que propõe a Música Litúrgica como disciplina. O que significa ter a Música como disciplina dentro da Teologia?Sua importância se resume ao nível pragmático-funcional como por exemplo, aprender a escolher um canto litúrgico? Seria apenas isso? Para tanto não é necessária uma disciplina, bastaria um cursinho paroquial! Será que a música teria algo então a contribuir dentro da reflexão teológica? Poderia ela apresentar outros enfoques de reflexão teológica? Poder-se-ia com essa reflexão teológico-musical recuperar o sentido ritual da música a ponto de provocar em nossos formandos uma genuína simpatia musical?

Nos próximos Informativos refletiremos acerca dessas e outras questões.

[1] CANDÉ, Roland de. História universal da música. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

[2] SCHAFER, Murray. O ouvido pensante. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1991.

[3]“Falta de sensibilidade às artes, de qualidades ou aptidões artísticas”. No campo da medicina: “incapacidade patológica de produzir, reproduzir ou perceber sons musicais”.

*Frei Peixer, OFM - ITF

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