Institucional

01.06.2018
“O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado”
9º Domingo do Tempo Comum, ano B 2018
Oração: “Ó Deus, cuja providência jamais falha, nós vos suplicamos humildemente: afastai de nós o que é nocivo, e concedei-lhes tudo o que for útil”.
1. Primeira leitura: Dt 5,12-15
Lembra-te de que foste escravo no Egito.
A primeira leitura deste domingo tem como tema a observância do sábado. No evangelho Jesus dá uma nova interpretação da lei do sábado. No tempo do Advento, da Quaresma e da Páscoa a 2ª leitura acompanhava a temática da 1ª leitura e do Evangelho. Voltando aos domingos do Tempo Comum, a 2ª leitura segue uma temática própria, referente à vida cristã. Pode ser vista como vivência concreta na vida cristã da mensagem das duas outras leituras.
A observância do sábado em Israel já é atestada no séc. VIII a.C (Is 1,14; Am 8,5). Mas tarde, Jeremias critica os judeus que carregavam pesados pesos no próprio Templo no dia de sábado (Jr 17,21-27). No exílio e entre os judeus dispersos pelos países o sábado era respeitado como dia de descanso e dia de culto ao Senhor. Tornou-se um preceito que distinguia o povo judeu entre outros povos que não tinham este costume.
A leitura de hoje é o terceiro dos dez mandamentos da Lei. Sobre o sábado fala também Ex 20,8-11, onde a motivação para guardar o sábado remete à obra da criação em seis dias e no sétimo dia Deus “descansa” (Gn 2,2-3). “Por isso o Senhor abençoou o dia do sábado e o santificou”. O ser humano foi colocado por Deus como o guarda/cuidador da criação divina. Durante seis dias o homem trabalha, mas no sétimo dia é convidado a santificar o sábado; interrompe seu trabalho para bendizer (abençoar) a Deus pelo dom da criação e pelos frutos de seu trabalho. Esta motivação do sábado ligada ao culto é da tradição sacerdotal. Na leitura que acabamos de ouvir o motivo para observar o sábado liga-se à libertação de Israel do Egito. Israel servia ao faraó como escravo, “mas de lá o Senhor teu Deus te fez sair com mão forte e braço estendido”. Israel deixa de “servir” ao faraó para servir a Deus como povo libertado, porque “o sétimo dia é o sábado, o dia de descanso dedicado ao Senhor”. O mandamento do sábado se dirige ao “tu, marido e mulher” e inclui todos os que pertencem à família, isto é, filhos, escravos e animais. O estrangeiro é mencionado depois dos animais porque não pertence à família/casa. O estrangeiro também precisa descansar. Não pode ser tratado como escravo, conforme aconteceu aos filhos de Israel, que foram estrangeiros no Egito. O texto não exclui a santificação do sábado, mas tem um caráter mais social, ligado ao trabalho e ao descanso. Somos livres, não somos escravos do trabalho. “Só um povo livre pode ‘liberar’ um dia para Deus” (Konings).
Salmo responsorial: Sl 80
Exultai no Senhor, nossa força!
2. Segunda leitura: 2Cor 4,6-11
A vida de Jesus seja manifestada em nossos corpos.
Paulo foi escolhido por Cristo para ser o evangelizador entre os pagãos. E escolheu também seguir a Jesus Cristo. Isso lhe trouxe muitos sofrimentos, seja da parte de judeus como de alguns cristãos da comunidade de Corinto por ele fundada. No texto que acabamos de ouvir fala na primeira pessoa do plural, em seu nome e em nome dos cristãos. Paulo não faz uma simples lamentação, mas em seus sofrimentos mostra as consequências que a pregação do Evangelho pode trazer para quem foi escolhido por Cristo e decidiu seguir sua doutrina. Paulo alegra-se porque Deus, que fez brilhar a sua luz na criação (“faça-se a luz!”), agora faz brilhar a mesma luz no coração daqueles que receberam a fé. Assim conhecemos de modo claro a glória de Deus na face de Cristo. Trazemos o tesouro da fé em frágeis vasos de barro, para reconhecer que não agimos pela nossa força, mas pelo poder de Deus. Esse poder nos dá forças para enfrentar os sofrimentos e perseguições que o próprio Jesus sofreu, “para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa natureza mortal”. Paulo vivia a mística do seguimento de Jesus Cristo (cf. Mc 8,34-35): “Estou crucificado com Cristo. Já não sou que vivo, é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 1,19-20)
Aclamação ao Evangelho
Vossa Palavra é a verdade; santificai-nos na verdade.
3.Evangelho: Mc 2,23–3,6
“O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado”.
Jesus curou a mão do homem que precisava trabalhar
O Evangelho apresenta duas cenas e duas discussões de Jesus com os fariseus sobre a observância do sábado. Uma cena no campo (2,23-28) e outra na sinagoga (3,1-6). Na primeira cena os discípulos são vistos pelos fariseus, colhendo espigas de trigo e debulhando-as para comer os grãos. Em questão não está o mandamento de não roubar, pois a quem tivesse fome era permitido colher grãos, mas só o suficiente para matar a fome. Os fariseus criticam a Jesus porque seus discípulos colhiam espigas de trigo em dia de sábado e assim violavam o repouso sabático. Jesus os defende – e com isso também a todos os famintos – citando o caso de Davi. Ele e seus companheiros fugiam das iras do rei Saul e refugiara-se num pequeno santuário, onde havia pães oferecidos a Deus. Famintos como estavam, Davi e seus companheiros comeram estes pães o que só aos sacerdotes era permitido comer. Deus é mais glorificado quando os famintos conseguem se alimentar: “A glória de Deus é o ser humano vivo; e a vida do ser humano é a visão de Deus” (S. Irineu). Portanto, a vida das pessoas é mais importante do que observar a lei. E Jesus acrescentou: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado”. Logo em seguida Jesus entrou numa sinagoga e viu ali um homem com a mão seca. Sabendo que os fariseus o observavam, Jesus disse ao homem da mão seca: “Levanta-te e fica aqui no meio!” Muitos viram apenas um homem aleijado. Jesus, porém, viu um homem, pai de família que não podia mais trabalhar e teve compaixão; colocou-se no lugar dele e perguntou: “É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?” Mas ninguém respondeu. Jesus olhou para os que estavam presentes, triste e irritado porque eram duros de coração, isto é, sem compaixão; e disse ao homem: “Estende a mão”, e o homem ficou curado. Os fariseus e os partidários de Herodes começaram a tramar a morte de Jesus. Enquanto Jesus defende a vida, seus adversários tramam sua morte.
As perguntas de Jesus questionam também a nós, que observamos o domingo: Escolhemos fazer o bem ou estamos em cima do muro? Escolher entre o bem e o mal, entre salvar vidas e deixá-las morrer, custou para Jesus a perseguição e a morte.
Frei Ludovico Garmus, OFM