Institucional

Revista Grande Sinal - Laicato

13.12.2018
Notícias

Revista Grande Sinal - Laicato

Prezado (a) leitor (a)
Paz e Bem!

Já está em suas mãos o exemplar de Grande Sinal que corresponde aos meses de outubro, novembro e dezembro de 2018. Desta vez resolvemos colocar na berlinda o tema do laicato cristão em comunhão com a Igreja do Brasil que consagrou este ano aos leigos. Estamos no campo da eclesiologia. Desnecessário lembrar que a Constituição Dogmática Lumen Gentium é um documento a ser sempre mencionado como doutrina sólida a respeito dos membros do Povo de Deus no meio do qual homens e mulheres que vivem nas atividades terrestres ocupam lugar de destaque.
Alguns de nós tivemos a ventura de viver os gloriosos tempos que imediatamente precederam e sucederam o Concílio no Vaticano no final da década de 1950 e inícios dos anos 1960 e toda a década de 1970. Quantas esperanças e quanta alegria. Palavras fortes e expressões otimistas: aggiornamento, abrir as janelas da Igreja para que ela seja arejada de vento, liturgia em vernáculo, participação dos fiéis na vida da Igreja... Nos últimos tempos foram feitos balanços a respeito da implementação das ideias e documentos do Concílio: avanços e retrocessos. Por detrás de Constituições e Decretos conciliares certamente o tema do laicato mereceu especial tratamento e constantes revisões.
Teólogos de peso, com sua atividade docente e produtora de textos, foram preparando o terreno para as novas perspectivas da doutrina do laicato. Entre eles não podemos deixar de mencionar dois dominicanos franceses de gabarito: Yves Congar e Marie Dominique Chenu. Suas pesquisas e pronunciamentos tiveram peso na aula conciliar. Na Europa, e depois em outros continentes, ia fazendo sucesso a Ação Católica, sobretudo assistindo a operários e jovens. Desejava-se fazer com que os leigos, no caso aludido acima, operários e jovens, se tornassem efetivamente, no seio da Igreja, protagonistas e não meros apêndices de uma Igreja marcadamente clerical. Era urgente uma reflexão sobre o laicato que tivesse sua base nos escritos neotestamentários. Não era mais possível viver numa Igreja em que uns decidem e mandam e a grande parte não tem respeitada sua dignidade batismal. Será que fizemos progresso em tudo isso?
Fez sucesso o método do ver-julgar-agir oriundo e praticado pelos vigorosos grupos de Ação Católica (Não se pode deixar de citar, neste contexto, dois leigos brasileiros: Gustavo Corção e Alceu de Amoroso Lima, (o doutor Alceu). Tal metodologia continua sendo válida em nossos dias e quando não é utilizada dificulta a penetração do Evangelho nas realidades terrestres.
Leigos, laicato e realidades terrestres! Presença e atuação dos cristãos leigos. Não se pode deixar de lembrar, entre nós, todo um movimento de renovação que iria desembocar nas Comunidades Eclesiais de Base que fizeram sucesso e foram também contestadas nem sempre com justiça. Sentiu-se o surgimento de homens e mulheres engajados na transformação da sociedade e, nos tempos da ditadura, a coragem e garra de religiosos, mas também de muitos leigos de denunciar atentados contra a dignidade do ser humano. Não é aqui o espaço para examinar todas as consequências da consciência que iam tomando os leigos de seu ser Igreja e de seu agir como Igreja deixando uma posição de cristãos subalternos.
Está claro: os leigos não são “coadjuvantes” dos projetos e ações dos clérigos, mas protagonistas no seio da Igreja, têm luz própria. Pensar a Igreja como sacramento da comunhão significa pensar e viver, no sentido bíblico do povo convocado por Deus que dele recebe vida e missão. É todo o povo que é apostólico e participa da missão do Verbo encarnado. Cada cristão, por seu batismo, recebe esta missão apostólicas em virtude do sacerdócio comum dos fiéis que não é exclusivo do sacerdócio ministerial. O Senhor distribui seus dons a cada um, em vista do bem comum, na diversidade dos estados de vida e funções no seio da única e mesma Igreja na dimensão terrestre e escatológica. Aos leigos cabe, de modo preponderante, fazer penetrar nas realidades terrestres o espírito do Evangelho, estabelecer uma ordem temporal de acordo com a dignidade do homem como esta se revelou em Cristo. Por aí se entende o caráter secular. Cabe a eles gerir as coisas temporais. Os cristãos leigos não são especialistas exclusivos do relacionamento com a sociedade secular, mas têm um papel próprio a desempenhar na família, na educação, na vida profissional, associativa, social, política. Claro que tem também no campo da animação da vida da Igreja.
Catherine Mason, em artigo publicado na revista La Vie Spirituelle (nov. 2004, p. 518-519) recordava alguns aspectos da espiritualidade dos leigos. Escreve sobre o enraizamento do leigo em Cristo. O leigo será uma pessoa profundamente vinculada a Cristo: “Enraizar-se em Cristo, é impregnar-se cada dia de sua Palavra, palavra de vida que ele nos dá na meditação da Escritura, sozinhos ou em grupo, Palavra que nos modela, nos transforma e nos impulsiona rumo ao mistério de amor da Trindade. Enraizar-se em Cristo é ser modelado pela Palavra de Deus, alimentado pela Eucaristia, escutar, ver, falar aos outros com ouvidos, os olhos, a boca de Deus, é discernir neles a imagem de Deus É deixar-se enviar em missão pelo Cristo que nos faz próximos dos homens, capazes de partilhar suas alegrias e seus sofrimentos(...). O cristão viverá, construirá e transmitirá uma cultura de vida, de amor e de paz que abre o mundo à esperança. É nesse mundo que se constrói desde agora o Reino de Deus”.
Chamamos a atenção de todos para nossos artigos. Frei Ildo Perondi, Fabrizio Catenassi e Patrícia Martins aprofundam a passagem bíblica de Mt 5,13-16 à luz do Documento 105 da CNBB. O Documento incentiva os cristãos leigos e leigas a assumirem a sua missão na Igreja e no mundo. Outro artigo analisa as características que um fiel cristão leigo franciscano, ou não, deve ter para alcançar a maturidade na fé cristã.
Nas “Reflexões” contamos com as preciosas colaborações do padre Nicolau Bakker sobre altruísmo e egoísmo; de Frei Raul Bentes que discorre sobre um livro do monge beneditino Anselm Grün, mostrando a atualidade da espiritualidade dos monges do deserto; e, por último, da professora Marcia Varrichio e sua equipe que nos apresentam alguns detalhes dos Seminários em Saúde Ambiental e Espiritual realizados na graduação em Teologia, pelo Instituto Teológico Franciscano.
De modo particular será de muito proveito a leitura do estudo histórico de André Vauchez sobre os leigos da Idade Média. A história é sempre mestra.

Paz e todos os bens
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Compartilhe:   

Verifique o cadastro do ITF no e-MEC
Consulte aqui o cadastro da instituição no Sistema e-MEC

Contato

Endereço

Rua Coronel Veiga, 550 - Petrópolis – RJ | CEP: 25.655-151

Telefones:  (24) 98839-7966


Newsletter

Cadastre seu e-mail e fique por dentro das novidades: