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Raízes de um movimento penitencial - 1ª parte

13.03.2019
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Raízes de um movimento penitencial - 1ª parte

Blog do Frei Vitório

Diz a Legenda dos Três Companheiros: “Todos aqueles que os viam se admiravam muitíssimo, pelo fato que, no hábito e na vida, eram diferentes de todos e pareciam quase homens selvagens. Onde quer que eles entrassem, a saber cidade ou aldeia, vila ou casa, anunciavam a paz, animando a todos para que temessem e amassem o criador do céu e da terra e observassem os seus mandamentos. Alguns os ouviam de bom grado, outros, pelo contrário, zombavam deles; quase todos os fatigavam com perguntas, dizendo alguns: “De onde sois?”; outros perguntavam qual era a Ordem deles. Embora lhes fosse trabalhoso responder a tantas perguntas, eles, no entanto, lhes confessavam com simplicidade que eram homens penitentes oriundos da cidade de Assis” (3Comp 37, 4-8).

A identidade franciscana é uma identidade penitencial. Todos podemos dizer como os primeiros frades: somos penitentes e viemos de Assis! O Movimento Penitencial inspirou os passos de Francisco de Assis e seus Companheiros primitivos. Penitência não tem conotação de purgação, mas de reconstrução. Há uma dimensão reformadora. Os penitentes não eram contra a ortodoxia, queriam apenas retomar um caminho apostólico mais genuíno, mais próximo da Igreja primitiva. Não era retrocesso, mas um processo de regar uma raiz para que produzisse novos frutos. É um fenômeno laical que não queria criar um confronto com a hierarquia eclesiástica, mas sim viver de modo original a originalidade do Evangelho. É verdade que quando o novo e o autêntico se revelam, incomodam bastante e, por isso mesmo, por não ser aceito e compreendido, o movimento penitencial experimentou a marca da heresia. Assumiram a pregação, mas não transformaram o Evangelho apenas em sermões, mas em ação para tornar nova a humanidade.

Andaram pelos caminhos do campo e chegaram aos centros urbanos levando a Palavra, tornando viva uma religiosidade popular, uma novidade espiritual para um tempo que conhecia apenas coro e púlpito. Mostraram uma grande sensibilidade para a dimensão fraterna da convivência humana. Sair do claustro para o mundo é uma aproximação social. Se a Vida e a Regra é viver o Evangelho, a vida baseada na Regra tem que ser vivida onde o povo está; o testemunho cristão é público, nas ruas e no coração das pessoas. A pregação é religiosa e ética, e todos podem ver a força das virtudes dos frades primitivos na chama da Palavra que neles é espírito, pregação e vida, amor e devoção. Esmola pedida e esmola recebida é esmola partilhada.

A dimensão penitencial é uma evangelização sem paredes. Andar por todos os lugares e reunir-se em Capítulos para partilhar maravilhas do que é abandonar-se à Providência. Vestir-se na simplicidade é mostrar-se sem duplicidade. Abraçar a humildade é evitar o poder que esvazia a autoridade. Ser penitente é ser um convertido. A conversão é mudar de caminho, mudar o rumo para encontrar a melhor direção. É um rito de passagem de uma vida anterior para um novo modo de vida. Isto não se dá sem rupturas e sem ascese: é preciso disciplina para abraçar o compromisso de viver um novo modo de ser e de estar no mundo. O convertido sabia estar no êremo, sabia estar nas frestas do lugar solitário e dai sair para ser comunitário, ir para os costumeiros lugares do mundo. Onde estivesse era desapegado, de coração puro e vivendo apenas do estritamente necessário.

FREI VITÓRIO MAZZUCO

CONTINUA...

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